O "fantástico" show da vida contrasta com o cotidiano, isso é incontestável.
Pressupõe-se, então, que muitas pessoas se deprimem porque imaginam a vida deslumbrante das celebridades ou de amigos que sempre contam novidades, enquanto elas próprias vivem uma rotina considerada entediante para quem não se contenta com a companhia dos familiares, não reconhece a importância dos amigos sempre presentes, não dá valor ao que possui, ou seja, o que é dos outros é sempre melhor.
Muitos que não se julgam amados, talvez não amem ou não demonstram esse sentimento aos seus, como esperar retribuição?
Mas um outro aspecto me preocupa ainda tratando da crítica do filósofo e diretor de cinema Guy Debord, a sua abordagem sobre velocidade: "a sociedade espetacularizada entende que a história precisa ser permanentemente revista, reescrita, e mais freqüentemente ainda, esquecida". E o ritmo de vida das pessoas, cada vez mais acelerado, favorece essa tese.
Continuando suas reflexões, “aquilo de que o espetáculo deixa de falar durante três dias é como se não existisse". E uma das características que favorecem a desconstrução dos registros históricos é a promoção de inúmeras festividades, como é o caso da Copa do Mundo de futebol, do Carnaval, entre outros.
Diante de tantos questionamentos, algumas circunstâncias caracterizam a forma de poder do espetáculo. Debord apresenta cinco aspectos principais, das quais eu destacaria "a mentira sem contestação que consumou o desaparecimento da opinião pública" e "a construção de um presente que quer esquecer o passado e dá a impressão de já não acreditar no futuro".
O resultado é que, no caso do Brasil, nunca na história do país se pôde "mentir com tão perfeita ausência de conseqüências” pois “o que nunca é punido torna-se permitido”. Portanto, as palavras do filósofo, após quase meio século, continuam repercutindo a realidade.
Enquanto poucos brasileiros despertam para a necessidade de rever os rumos do país, aqueles que preferem a espetacularização da vida costumam se manter distantes da realidade e acreditam que todas as pessoas possam ser atendidas apenas com discurso, propaganda e muito oba-oba.
Isso acontece no mundo inteiro, mas em outros lugares as pessoas percebem o que lhes falta e, quando podem, reclamam.
No Brasil, basta dizer que tudo está resolvido que a palavra tem o poder de suprir carências fundamentais para a vida humana.
ISSO É MÁGICO.... OU É IGNORÂNCIA?
Amiga,belo e interessante texto. Respondendo à sua pergunta final, eu diria que são os dois! MÁGICO porque as carências são levemente "supridas" para dar a falsa impressão de que as coisas estão melhorando. IGNORÂNCIA porque o povo não tem conhecimento suficiente para perceber que está sendo ludibriado. Para aqueles que dizem que intelectuais estão apoiando o governo que aí está, saliento que estes intelectuais estão se locupletando junto com o poder. É só pesquisar!
ResponderExcluirTenho trauma de infância pois a música do fantástico significava que acabou o fim de semana. Depis do advento da TV a cabo ou satélite nunca mais assisti. Excelente texto.
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