quinta-feira, 14 de junho de 2012

QUE EXEMPLOS O BRASILEIRO APLAUDE?

Meu amigo Cacique, que também é seguidor deste blog, passou uns tempos "nazoropa".
Deixando a brincadeira de lado, faço questão de repassar um texto publicado em seu blog, uma lição de sensiblidade e sabedoria, digna de um doutor - o cacique da rede é Engenheiro.
Confiram:

O Brasil Cospe nos Seus Heróis

Por Ajuricaba

Mesmo num período com poucos dias de folga, pude andar em várias cidades por aqui. Sejam pequenas, médias ou grandes, em todas se vê muitas, vou repetir, MUITAS placas de bronze ou mármore, modernas ou milenares, enaltecendo seus heróis. Coisa pequena, como os filhos da cidade que foram prá guerra na Argélia ou no Afeganistão, mas tem...

Aí começo a ler jornais no Brasil. Lembram-se de Francisco Bazílio Cavalcante? Pois é, nem eu...

Em março de 2004, a vida de Francisco foi parar em todos os grandes orgãos da imprensa. Ele, que morava no Céu Azul (GO) e ganhava R$ 370 mensais, encontrou uma maleta com mais de US$ 10 mil, equivalentes, à época, a R$ 30 mil, esquecida em um banheiro do aeroporto de Brasília. Francisco não hesitou. Usou o sistema de som do saguão para anunciar o achado. Momentos depois, o dono do dinheiro, um turista suíço, apareceu. Deu-lhe lá umas 3 ou 4 notas, um muita oprigada e sumiu.

O mesmo homem hoje tem 64 anos. Na época, apareceu na tevê, deu entrevistas a rádios e realizou um de seus maiores desejos: conhecer pessoalmente o 9 dedos, nordestino como ele, que o recebeu no Palácio do Planalto, e de quem ouviu promessas do nêgo e o cachimbo. Ótima propaganda pro salafrário. Francisco até levou uma caneta para presenteá-lo.

Depois da promessa de promoção no emprego, foi usado no slogan Sou brasileiro e não desisto nunca, repetido por Francisco em vários canais de televisão, inclusive em horário nobre. Francisco ainda tem a fita VHS com o comercial gravado guardada em casa.

Claro que o cachê ficou prá agência paga a preço de ouro pelo governo e ele não recebeu nada em troca das aparições públicas.

“Só quis mostrar como valia a pena ser honesto no ambiente de trabalho.
Só ganhei a chance de dizer isso para as pessoas”, disse Francisco.

Tá vai...A promoção veio tempos depois. O servente terceirizado que ganhava R$ 370 mensais, passou a receber R$ 1,2 mil, como supervisor-geral. Com reajustes, chegou a ganhar R$ 1,9 mil, até este ano.
No próximo 21 de setembro Francisco poderia se aposentar. Já tinha até planos e contas para ter o merecido descanso, após 35anos com carteira assinada, todos no Aeroporto Internacional de Brasília.
Mas uma troca no contratado que presta serviços gerais no local atrapalhou os planos de Francisco. Aquele homem que alimentava o sonho de que todos podiam alcançar o céu, permanecia no mesmo lugar. Nem tão cedo entrará pela primeira vez num bezourão de aço rumo a Sobral/CE, onde nasceu.
Foi apresentado ao país como alguém que andava preocupado por não ter R$ 28 para quitar a conta de luz, mas, ainda assim, retornou a mala cheia de dólares ao proprietário.

“Não quero nada que não seja meu”, justificou.

Na troca de contrato, os 200 funcionários antigos puderam continuar trabalhando. Se Francisco quisesse continuar trabalhando, teria que voltar ao cargo de faxineiro. Em lugar do terno e gravata de supervisor, voltaria a vestir o macacão da limpeza. Passaria a ganhar R$ 622. A aposentadoria, daqui a quase quatro meses, foi pro espaço.

(CONTINUA NA Tribo dos Manaós)

2 comentários:

  1. É uma hora para este silvícola ter esta repercussão de seus rabiscos. Muito me enoja ver como tratamos nossos heróis urbanos (vejam que escrevi na primeira pessoa do plural, que inclui aquele que fala).
    Sempre procurando me corrigir, agradeço a citação.
    Jocas carinhosas e respeitosas deste cacique branco.

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  2. Cacique
    Agradecemos a getileza de prestigiar nosso espaço.
    A honra é nossa e o espaço tem essa finalidade, agregar pessoas e debater valores.

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