sexta-feira, 17 de agosto de 2012

POEMAS E FLORES



Junquilhos

Nessa tarde mimosa de saudade 
Em que eu te vi partir, ó meu amor, 
Levaste-me a minh'alma apaixonada 
Nas folhas perfumadas duma flor. 

E como a alma, dessa florzita, 
Que é minha, por ti palpita amante! 
Oh alma doce, pequenina e branca, 
Conserva o teu perfume estonteante! 

Quando fores velha, emurchecida e triste, 
Recorda ao meu amor, com teu perfume 
A paixão que deixou e qu'inda existe... 

Ai, dize-lhe que se lembre dessa tarde, 
Que venha aquecer-se ao brando lume 
Dos meus olhos que morrem de saudade! 


Crisântemos

Sombrios mensageiros das violetas,
De longas e revoltas cabeleiras;
Brancos, sois o casto olhar das virgens
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras.

Vermelhos, gargalhadas triunfantes,
Lábios quentes de sonhos e desejos,
Carícias sensuais d´amor e gozo;
Crisântemos de sangue, vós sois beijos!

Os amarelos riem amarguras,
Os roxos dizem prantos e torturas,
Há-os também cor de fogo, sensuais…

Eu amo os crisântemos misteriosos
Por serem lindos, tristes e mimosos,
Por ser a flor de que tu gostas mais!

Florbela Espanca - A mensageira das violetas

Florbela Espanca, batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.

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