segunda-feira, 14 de outubro de 2013

OUTUBRO

Elton Simões

No Norte, perto da ponta do mundo, Outubro traz o Outono. As cores mudam. As árvores desfilam cores diferentes. Vestem-se, em diferentes tonalidades de amarelo ou vermelho, provavelmente causando inveja aos pinheiros que, teimosamente, permanecem verdes

Outubro inaugura aquela época do ano em que já se pode encarar o ponto randômico no tempo que escolhemos para marcar a passagem do ano. O ano novo fica visível como um ponto de luz no fim do túnel. Próximo o suficiente para ser visto, mas longe demais para determinar sua substancia.

Visto de outubro, a luz do ano novo não permite dizer se por ai vem o trem ou o fim do túnel. Apenas que a luz esta lá, chegando cada vez mais perto no ritmo da batida do relógio. A cada tic, e em todos os tac, o ano novo fica mais perto, mais nítido, mas igualmente incerto.

É nesta altura do ano em que começamos a nos convencer que o ano está definido. O que será, será. Ou já foi. Dá para olhar para trás e ver as oportunidades perdidas sem, no entanto, conseguir ressuscita-las ou reverte-las antes que acabe o ano gregoriano.



Dá para lembrar e esperança do começo do ano. As promessas de vida melhor. As previsões de PIB maior com inflação menor. A impressão de que a justiça, enfim, embora muito tardia, poderia, uma vez ao menos, não falhar.

Dá para lembrar-se do povo se encontrando na rua buscando, pacificamente, uma vida melhor, mais justa, mais cheia de esperanças e menos tomada por promessas frustradas. O gigante que (parecia) havia acordado voltou a descansar. Ou talvez a apatia esteja irremediavelmente tatuada em seu DNA.

De outubro, dá para ver que, para acalmar o gigante, bastou apenas que lhe fossem administradas algumas doses dos flácidos solilóquios que fazem dormitar bovinos. A esta altura, em sono profundo e em berço de qualidade duvidosa, o gigante apenas sente a dor de não ser e a vergonha de já ter sido. E nada mais.

Talvez esquecer alivie o desconforto causado pela diferença entre intenção e fato. Mas memória tem suas crueldades. É às vezes até sádica. Com dificuldade, aprende a se lembrar. Mas jamais aprende a esquecer. Outubro é quando dá para sentir o quanto a esperança é bela. E o quanto é frágil.

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