A nova juventude, por Carlos Alberto Di Franco
A Europa continua sob o fogo cerrado de uma crise sem precedentes.
Mais da metade dos jovens estão sem emprego. Assiste-se ao comprometimento de toda uma geração.
A Espanha vive uma fuga crescente de jovens talentos. Em um ano, a população entre 20 anos e 24 anos diminuiu em 100 mil pessoas. Entre 25 anos e 29 anos, a queda foi de 150 mil. O impacto da crise entre os jovens preocupa as autoridades e suscita análises sociológicas.
A Espanha vive uma fuga crescente de jovens talentos. Em um ano, a população entre 20 anos e 24 anos diminuiu em 100 mil pessoas. Entre 25 anos e 29 anos, a queda foi de 150 mil. O impacto da crise entre os jovens preocupa as autoridades e suscita análises sociológicas.
A juventude europeia não foi preparada para a adversidade.
O quadro brasileiro é bem diferente. Felizmente. Temos inúmeros problemas (violência, drogas, corrupção, desigualdade, baixa qualidade da educação), mas somos um país de gente alegre, com capacidade de sonhar.
O nosso grande capital, o nosso diferencial, apesar do notável emagrecimento do perfil demográfico brasileiro, é o vigor da juventude. Uma moçada batalhadora, com vontade de acontecer e, ao contrário do que imaginam os pessimistas crônicos, sedenta de valores éticos, familiares e profissionais.
O novo mapa da juventude não é novidade para quem mantém contato permanente com o universo estudantil. A juventude real está identificando valores como respeito, fidelidade, família, ética. Há uma demanda de âncoras morais e de normalidade afetiva.
Mas há também em andamento profundas mudanças comportamentais. Os filhos e os netos da permissividade moral sentem uma profunda nostalgia de valores. Os anos da revolução sexual produziram muito sexo e pouco amor. O relacionamento descartável deixou o travo do vazio. Agora, o auê vai sendo substituído pelo sentido do compromisso.
A juventude atual, não a desenhada por certa indústria cultural que vive isolada numa bolha ideológica e de costas para a realidade, manifesta uma procura de firmeza moral, de valores familiares e religiosos.
Deus, família, fidelidade, trabalho, realidades tidas como anacrônicas nas últimas décadas, são valores claramente em alta. A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), encontro do papa com os jovens, em julho deste ano, no Rio de Janeiro, vai surpreender muita gente. Espera-se mais de 2 milhões de jovens de todos os continentes.
É muito mais que a Copa do Mundo e as Olimpíadas juntas.
É muito mais que a Copa do Mundo e as Olimpíadas juntas.
A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar.
Mesmo os jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base familiar. A relação no lar é fundamental, mesmo havendo conflito. Parece paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada a não ter ninguém.
Em casa deixou de rotular os pais de caretas para buscar neles a figura do companheiro. Os jovens, em inúmeras pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela falta de vínculos, vai se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento promíscuo e transitório.
Agora, o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças na mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.
Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam “na excelência e no mérito como forma de se fazer revolução".
Defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento.
Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.
*
Carlos Alberto Di Franco, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Sociais – IICS (www.iics.edu.br) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário