O Pé de Acácia
Se eu fosse aquele pé de acácia,
ali na encosta,
exibindo o amarelo agressivo de minhas flores
contra o fundo verde da mata,
sentir-me-ia cheio de prazer
por oferecer abrigo aos ninhos e néctar às abelhas diligentes.
Gozaria, por certo, com o roçar macio do vento,
a tirar sons em meus ramos.
Nem me incomodaria mesmo de acolher algum parasito....
Se eu fosse aquele pé de acácia,
teria gosto de dar sombra ao casal de namorados
mas, sem dúvida, sofreria as dores impostas pelo machado
e ficaria triste com os moleques a matar meus passarinhos...
Mas eu responderia com a nobre impassibilidade de uma árvore.
Se eu fosse aquele pé de acácia,
imóvel, confiante, sereno,
majestosamente sereno,
saberia aceitar o que viesse,
sem lamentar,
sem reclamar,
sem me abater...
Mesmo que o temporal destruísse meus ninhos,
mesmo que as borboletas deixassem de vir ao amanhecer
e minhas folhas murchassem,
mesmo que o estio prolongado e forte viesse queimar-me
e as abelhas, sem encontar sustento, se fossem...
Embora passível de gozar e sofrer,
continuaria uma acácia majestosamente serena
e conservaria sempre a nobreza ereta de uma árvore.
Se eu fosse aquele pé de acácia
saberia aceitar como as coisas são;
não me rebelaria com o inevitável.
Saberia que,
até no mal cheiroso esterco,
energia inefável se manifesta...
e seria minha nutrição.
Acataria os golpes da poda,
a necessária dor para crescer.
Aceitaria os golpes do lenhador
que viesse fazer de mim algo útil.
Renunciaria a ser a pincelada amarela a embelezar a paisagem,
e me deixaria transformar em acha de lenha,
e meu mistério se libertaria em forma de luz e calor
ou viria a servir de esteio a um casebre
e meu mistério se faria abrigo.
Quando chegarei a ter a majestade
daquele pé de acácia
dando vida, beleza, abrigo, amenidade e lição?
Professor Hermógenes
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